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Pint of Science discute o direito à saúde pública no Brasil

Por Glenda Dantas.

A luta pelo Direito à saúde pública no Brasil foi tema de discussão da terceira noite de Pint of Science, evento que reúne divulgação científica e cerveja. Um dos palcos do evento foi o Tampinha Bar & Restaurante, no bairro da Federação, em Salvador. A discussão foi coordenada pela professora do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, Carmen Fontes de Souza.

O tempo de produção acadêmica da pesquisadora é confundido com o surgimento da Saúde Coletiva (SC), ambos remetem aos anos 70, período em que era limitado o acesso de grande parte da população brasileira aos serviços públicos de saúde. “Esse processo gerou a organização de um movimento político responsável por um conjunto de reivindicações e pela formulação de princípios que fundamentaram a reforma sanitária brasileira”, declarou.

As reivindicações garantiram, pela Constituição de 1988, a universalização do acesso, e a descentralização da gestão dos serviços de saúde, marcando a organização do Sistema Único de Saúde (SUS) do país e a criação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Outro aspecto destacado foi a expansão da área acadêmica de SC atrelado aos aspectos da luta pela democratização dos serviços de saúde. “A UFBA foi a primeira universidade a ofertar a pós-graduação em SC fora do eixo Rio-São Paulo. Hoje, no entanto, já existem mais de 100 unidades de Saúde Coletiva pelo país. As conquistas nessa área surgiram no âmbito universitário, mas foram possíveis graças à alianças com movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e associações”.

Alguns dos exemplos citados, apenas na Bahia, são: a criação da Associação Baiana de Pessoas com Doença Falciforme (ABADFAL), doença que atinge majoritariamente as pessoas negras, fruto da luta do Movimento Negro no estado. e a ampliação das pesquisas de saúde para além da medicina tradicional, como os processos de cura das religiões afro-indígenas, e teses de mestrado relacionando comidas de rua, vigilância sanitária e saúde.

“Dentre outros objetivos, a Saúde Coletiva pretende investigar os determinantes da produção social das doenças para planejar a organização dos serviços de saúde”, explicou Carmen. Saúde Coletiva (SC), termo originado no Brasil, é uma área de conhecimento multidisciplinar produzidos pelas ciências biomédicas e sociais.

A união das áreas de conhecimento é, segundo a palestrante, “pensar as doenças, não mais como processos meramente biológico, ou seja, algo que simplesmente surge no corpo das pessoas, mas pensar saúde como um fenômeno social”.

Avanços e Retrocessos
“A epidemiologia é uma das principais áreas de estudo da saúde coletiva, e é responsável por estudar os distintos fatores que intervêm na difusão e propagação de doenças”, detalhou Carmen. Os avanços nessa área, de acordo a pesquisadora, têm proporcionado o aumento da expectativa de vida da população, diminuição nas taxas de mortalidade infantil, erradicação de epidemias, etc.

Entretanto, ela destacou os retrocessos que o eixo da saúde vem sofrendo, sobretudo após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. “O governo Temer está causando um desmonte do SUS, destaco a aprovação da PEC 55, que congela por 20 anos os gastos sociais”. Pensando nas eleições 2018, ela questionou o fato de “nenhum programa político ter colocado o SUS dentro das questões prioritárias”.

Ciência com cerveja
“O objetivo do Pint of Science é trazer os pesquisadores para espaços mais descontraídos, para conversar e brindar à ciência com o público”, explicou o coordenador do evento em Salvador, Denis Soares, vice-diretor da Faculdade de Farmácia da UFBA.

A maioria da plateia estava composta por estudantes interessados no tema. Um deles foi Gabriel Bomfim, estudante de Farmácia na UFBA. “A linguagem informal para explicar foi fundamental, pois possibilitou que todos acompanhassem a palestra facilmente. A proposta do evento é boa também por isso, aproxima as pessoas da ciência”, declarou ele.

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